Sir Isaac Newton ( 1643 — 1727)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Newton dedicou muitos de seus esforços aos estudos da alquimia. Escreveu muito sobre esse tema, fato que soube-se muito tarde, já que a alquimia era totalmente ilegal naquela época.
O seu primeiro contato com caminhos da alquimia foi através de Isaac Barrow e Henry More, intelectuais de Cambridge. Em 1669 escreveu dois trabalhos sobre a alquimia, Theatrum Chemicum e The Vegetation of Metals.
Outras publicações foram feitas por Newton sobre a alquimia. Todas profundamente importantes.


Isaac Newton foi quem mais defendeu a existência da "quintessência" em suas teorias e discussões sobre os conceitos de matéria e energia. Muitas vezes, Newton deixou transparecer a sua crença em uma força imaterial presente nos corpos materiais e nas formas de energia. Ele admitia que matéria e luz comunicavam-se por algo desconhecido pela ciência. Em suas teorias sobre a propagação das vibrações dos corpos, chamava essa essência desconhecida pelo sugestivo nome de "espírito da matéria".


"Do meu telescópio, eu via Deus caminhar! A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto fica sendo a minha última e mais elevada descoberta. (Isaac Newton)"


Estudos em curso no âmbito do Newton Project, que vem transcrevendo vários milhões de palavras inéditas escritas por Sir Isaac Newton sobre alquimia e teologia, estão a revelar gradualmente uma tripla identidade do grande matemático e físico que abriu caminho à chamada Revolução Científica da modernidade, a partir da segunda metade do século XVII.


Esta é em suma a nova história que nos conta o livro «Newton herético», agora publicado em Portugal com a chancela da Ésquilo Editora. O primeiro Newton é o mais aclamado e conhecido, o co-inventor do cálculo infinitesimal, junto com Leibniz, o cientista que provou que a luz branca resulta de uma mistura de cores, explicou o arco-íris, construiu o primeiro telescópio reflector e a lei da gravidade universal que rege os movimentos dos planetas, dos cometas e das marés.

Este é o Newton genial, incontestável.

Só que, como em muitas personalidades originais e criadoras, Isaac Newton procurou esconder outras facetas da sua acção e do seu pensamento, que apenas partilhava com uma reduzida elite de amigos. Assim, sabe-se com fundamentadas razões que se aplicou secretamente ao longo de grande parte da sua vida ao estudo da alquimia e devotou-se igualmente a um contínuo esforço de interpretação das profecias da Bíblia.


Os seus manuscritos, finalmente disponíveis para uma análise crítica, excedem de longe os seus escritos sobre Física, e constituem um manancial precioso que está a revolucionar a imagem convencional do grande génio inglês a que os manuais nos tinham habituado.


O Newton alquímico já havia sido identificado reconhecido pelos seus biógrafos, já que tais como outros cientistas da sua época, como Robert Boyle, assumiam o interesse pela “magna arte” que iria ela própria transmutar-se na Química moderna.


O Newton praticante da alquimia passou a figurar, ainda assim com algum embaraço dos seus admiradores, nas enciclopédias e compêndios. O inventário feito até gora atribui a Newton mais de um milhão de palavras escritas sobre alquimia, apoiada numa biblioteca com cerca de 50 volumes de tratados da especialidade.

O sábio inglês calculava mesmo que a decifração dos segredos operativos da alquimia lhe poderiam fornecer o código da linguagem divina, o segredo do Logos da Criação. Newton entendia que o seu trabalho perseguia o essencial de uma tradição secreta de sabedoria, a prisca sapientia, que remontava às origens da história humana, suspeitando mesmo que os Antigos haviam já intuído a famosa lei do quadrado inverso da distância que o seu génio acabaria por descobrir.



Mas, mais complexa e controversa é sem dúvida a sua postura religiosa, a do Newton teólogo fundamentalista, crente na Bíblia como revelação de Deus, defensor da tese da corrupção dos textos sagrados por uma Igreja Católica sem escrúpulos.


O matemático que dirigiu a maior assembleia científica do seu tempo, a Royal Society, aceitava a descrição literal da Criação do Mundo em seis dias, tendo revisto, por adiamento, a data de 4004 b.C. como o ano da Criação, tal como foi proposto pelo bispo irlandês James Usher, no século XVII.





Newton, pelo contrário, achava que o Mundo havia sido criado 500 anos mais tarde! Os seus manuscritos de natureza teológica revelam um Isaac Newton inequivocamente próximo das doutrinas arianistas, formuladas no século IV por Arius, um sacerdote de Alexandria, que propunha uma cristologia original em que Deus e o Filho não eram co-eternos, sendo Jesus o filho de Deus mas não igual a Ele. Resulta daqui uma posição anti-trinitária, contra a Igreja Romana, acusada por Newton de forjar uma heresia a partir do Concílio de Niceia e sob inspiração do bispo Atanasius.


As doutrinas arianistas fecundaram inúmeras variantes, uma das quais o Unitarismo Universal que se opõe à doutrina da Santíssima Trindade católica e contrapõe um Deus único. Isaac Newton, que foi professor de Matemáticas durante 26 anos em Cambridge, por ironia, no conhecido Trinity College, teve de silenciar a sua condição herética, relativamente ao credo Protestante maioritário e manteve-se nos limites dos rígidos cânones sociais e religiosos britânicos da sua época.


A decifração destes novos documentos atestam agora que o próprio labor científico de Isaac Newton visava consolidar, no fundo, a imagem de um Universo gerido por leis determinadas por uma entidade transcendente, tal como se deduz do “escólio” da sua obra mais aclamada, os Principia Mathematica, de 1687. Um Universo dotado de um espaço infinito que o matemático identificava com o “sensorium Dei”, mas que não se confundia de modo algum com o panteísmo.



O Deus de Newton era o Deus dominador da Bíblia que, de quando em vez, intervinha ora para ajustar as órbitas de um qualquer planeta ora para evitar uma crise cometária. Este teísmo inequívoco está consagrado nos seus estudos bíblicos, em que empregou boa parte dos seus argumentos astronómicos e matemáticos para interpretar as cronologias propostas no Livro de Daniel e no Apocalipse.


Tal como milhões de Protestantes do século XVII, Newton acreditava que a História humana estava desenhada para um fim coincidente com a Segunda Vinda de Cristo; que o Papa era o Anticristo previsto pelo Apocalipse joanino, a incarnação de Satanás num derradeiro e fútil esforço para perturbar os planos de Deus; que os judeus regressariam a Jerusalém e se tornariam cristãos.


O regresso de Cristo e consequente Milénio de paz, vigiado por um Deus “de mão de ferro”, actuante a todo o momento e em todo o lugar, teria lugar nos finais do século XXI. Nunca antes de 2060, tal como Newton propõe nas suas “Observações sobre as Profecias de Daniel e o Apocalipse de S. João”, publicadas em 1733.


Os manuscritos teológicos e alquímicos de Newton, à luz da crítica histórica em curso, permitem antever um homem brilhante e intuitivo, persistente nas suas convicções mais profundas, mas também receoso de uma eventual publicitação dos seus sentimentos e convicções mais ocultas.


Desde o século XVIII que o movimento das Luzes promoveu um Newton racionalista, o primeiro a inaugurar os caminhos da fria objectividade e do determinismo científico. Não parece mais sustentável esta imagem unilateral do sábio: Newton não foi o primeiro da Idade da Razão, mas sim provavelmente o último dos mágicos.





* Doutor em História;
Universidade Fernando Pessoa






Manuscrito de Isaac Newton traria data do apocalipse




The Newton Projetc
 
posted by Ana Maiz at 09:40, |

1 Comments:

nada alem da verdade