Ars Brevis Introdução - Raimundo Lúlio

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Como então determinar adequadamente o estatuto da Arte como ciência?


1. Para começar, deve-se constatar que a Arte luliana assenta-se sobre dois pilares, sendo o primeiro deles o chamado alfabeto que Lúlio introduz no início da Ars brevis e que se pode resumir da seguinte maneira :





A primeira série de princípios que aqui se reproduzem costumam chamar-se princípios absolutos, ainda que esta denominação não seja de Lúlio, que em suas primeiras obras os denominava dignitates passando depois a chamá-los simplesmente principia .
Tanto a palavra dignitas como o nome principia remetem à tradição aristotélica dos Analitica posteriora, onde se estabelece que cada ciência parte de princípios per se nota que não podem ser comprovados, ao menos não pela própria ciência.












Seguindo esta tradição, estes princípios também são indemonstráveis para Lúlio. E mais, são os mesmos atributos de Deus que, como causas exemplares, são ao mesmo tempo os principia essendi e os principia intelligendi da criação. Justamente por isso, não podem ser provados, já que são a condição da possibilidade do ser e do conhecer. Mas –e com isto voltamos à intenção dialogante de Lúlio– também não é necessário demonstrá-los, porque representam um lugar comum das três grandes religiões de livro.








Assim, o judaísmo conhece as dignitates sob o nome sefirot, enquanto que o islamismo as chama hadras. Ou seja, Lúlio parte na sua Arte dos pressupostos comuns das três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.








Enquanto estes atributos divinos, segundo Lúlio, são indistinguíveis quando estão em Deus, sim que se podem diferenciar e relacionar quando estão realizados na criação, pelo que Lúlio introduz em segundo lugar uma série de princípios relacionais como «diferença», «concordância», «contrariedade», etc., que abarcam todos os seres intra-mundanos. Com isto, a cosmovisão de Raimundo Lúlio possui dois eixos, um vertical que religa a criação à sua causa transcendente mediante os princípios absolutos, sendo estes as causas exemplares do mundo; e outro horizontal que descreve o dinamismo entre as criaturas a partir das diferentes relações que se dão entre elas.



Pode-se dizer, e já foi dito, que estes princípios relacionais juntamente com os princípios absolutos constituem todo o fundamento da Arte luliana, enquanto os demais conceitos do alfabeto, ou seja, as perguntas, os nove sujeitos e as virtudes e os vícios, seriam suas ferramentas de pesquisa.







Resumo:

O Ars brevis consiste em quatro figuras e uma figura de alfabeto.
A primeira figura "A" Lulio chama de "dignidades". As dignidades são extraídas diretamente da lógica escolastica, John Scotus de Erigena; conectando todas as linhas é possível criar permutações de todas as dignidades (à excecção dos tautologicals).
A segunda figura T é realmente 3 triângulos sobrepondo, cada um com sub-especies que são associados com eles (1: diferença, concordia, oposição; 2: começo, meio, extremidade; e 3: major, igualdade, menores).
A terceira figura é uma tabela das combinações na primeira figura
A quarta figura é realmente móvel e permite a permutação nos grupos de três de todas as letras.
Além das figuras, há 18 princípios que devem ser aprendidos pelo coração a fim operar o dispositivo
A fim fazer um oráculo, há nove vezes modos da fazer perguntas.
Finalmente há três jogos de nove: Assuntos, virtures e vicios, que são usados também fazer perguntas .

 
posted by Ana Maiz at 19:39, |

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